LILIAN LUCIANI MENDONÇA DE RESENDE
( Brasil – Minas Gerais )
Poeta. Artista plástica autodidata.
Natural de Entre Rios/MG, é Tecnóloga em Radiologia pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – CEFET-MG e tem profunda satisfação de atuar na área da saúde.
lilianluciani@gmail.com
CENA poética 8 , incluindo contos. Editor: Rogério Salgado.
Belo horizonte, MG: RS Edições & Baroni Edições, 2022. 200 p.
14 x 21 cm Ex. bibl. Antonio Miranda
Alegorias da Vida
Arranco os meus pés do chão,
A janela se abriu.
E há luz!
A mais clara luz!
Clara como a luz da Lua
Que ilumina o caminho do andejo,
Aquele que anda descalço,
Que pisa as finas pedra do caminho,
Que geme de dor e de cansaço,
Que se acalma e se enxerga
Na luz do caminho.
Luz clara que brilha nas águas
Dos lagos que serpenteiam na relva.
Relva que enche meus olhos
Do mais belo verde — o verde amarelo!
Amarelo dos ipês que alegram meus dias,
Dias azuis dum céu de anil,
Que de tamanha imensidão e beleza,
De azul o mar tingiu.
Nas alegorias da vida, tudo se revelou.
E meus olhos se encheram de tanta beleza,
Que transbordam sem nenhum ardor.
E meu olhar é outro.
Eu olho para a criação
E nela encontro o criador.
Regresso
Estou chegando, minha mãe,
Aguarde no portão.
Não deixe que eu entre sozinha
E me depare com a escuridão.
Esse silêncio na sala,
A poeira que se acumula pelo chão,
E o vazio do quarto,
Não cabem no coração.
Lá fora a laranjeira florida
Aguarda pa-ci-en-te-men-te o final da estação,
Pra que os frutos sejam colhidos
E não caiam pelo chão.
Ah, meu pai! Por que não saíram do meu sonho?
Por que me deixaram aqui, nesse triste abandono?
Não quero levar flores mortas no frio leito da noite sem fim,
Prefiro dedicar-lhes as flores que vou plantar em meu jardim.
Cacos de mim
Olhos cansados,
Mãos calejadas,
Cacos de solidão.
Outros tantos por tanta ingratidão.
Nem se eu chorasse o tempo sofrido,
Nem se me perdoasse pelos sonhos perdidos
Ou pelos amores não vividos,
A natureza das coisas que levo e me pesam na alma
Já não fazem mais sentido.
Então me calo.
Já catei os meus cacos,
Eu já os colei.
Ninguém mais vê os pedaços,
Só eu sei.
*
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Página publicada em outubro de 2022
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